Sem dúvidas é a fruta com presença marcante na história. O consumo pelos povos amazônicos coloca entre as que mais estão em ascensão, importância econômica e agroecológica. O Bacuri (Platonia insignis Mart.), uma Clusiaceae nativo das Guianas, tem muitos “parentes brasileiros”, portanto, exige atenção na classificação botânica a não confundir outros (espécies) com nomes popularmente parecidos, com características e ocorrências diferentes, tais como: Bacuripari (Garcinia (Rheedia) macrophylla Mart, ou Bacuri mirim (Rheedia gardneriana) Clusiaceae, provavelmente nativas da amazônia brasileira (segundo autores). Outro conhecido é Bacuri de espinho (Garcinia madruno (Kunth) B. Hammel), muito consumido e vendido nas ruas de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. (veja no final do texto, a descrição de outras espécies).
O bacurizeiro (Platonia insignis Mart.), é uma árvore de usos múltiplos (fruto, madeira, látex) e com valor econômico alto. Isso significa que essa árvore deve ser protegida no seu ambiente, bem como plantada ou manejada em áreas degradadas. Podendo atingir até 30 metros e um diâmetro de 2 metros, um bacurizeiro pode produzir até 2.000 frutos, mas a média é de 400 frutos. Muitas árvores de bacuri não produzem frutos anualmente, pois “descansam” de um ano para o outro.
Em áreas de ocorrência natural, com vegetação aberta, a densidade de indivíduos em início de regeneração pode chegar a 40 mil por hectare, por causa das brotações. Por esse motivo, o povo amazônico diz que o “bacurizeiro nasce até dentro de casa”.
A produção atual de polpa de bacuri tem origem basicamente na coleta dos frutos de árvores oriundas de regeneração natural, que escaparam da expansão de povoados, do avanço da agricultura e da pecuária e da extração madeireira nos últimos quatro séculos.
A crescente procura pelo bacuri já superou a capacidade de produção atual, essencialmente extrativa. Mas estudos mostram que essa situação pode ser modificada com a adoção do cultivo e do manejo (agroflorestal) de plantas originadas da regeneração natural da espécie. Isso geraria renda e emprego, e permitiria a recuperação parcial de extensas áreas desmatadas e abandonadas.
Sua presença na História contem relatos históricos e populares interessantes. O primeiro relato conhecido sobre o bacuri está no livro História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão, escrito pelo frade francês Claude d’Abbeville (? -1632) e publicado em 1614.
Outro religioso, o padre jesuíta João Daniel (1722-1776), que viveu na Amazônia entre 1741 e 1757, descreveu o bacuri. A partir de 1757 e até sua morte, o padre ficou preso em Portugal – no período da caça aos jesuítas promovida por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês do Pombal (1699-1782) – e, na prisão, escreveu um enorme tratado sobre a região amazônica, citando o bacuri, como um tesouro: “A fruta bacuri, posto que tenha seus senões, também merece sua menção, pelo seu excelente gosto. A sua árvore é famosa de grande, e também o fruto é de bom tamanho”.
O Ensaio corográfico sobre a província do Pará, livro em que o militar e geógrafo português Antônio Ladislau Monteiro Baena (1782-1850) descrevia a geografia, os recursos naturais e a população paraenses, publicado em 1839, também destacou a importância do bacurizeiro, “árvore que dá fruta agridoce”.
Fato curioso também, é relatado pelo escritor paraense Osvaldo Orico (1900-1981) em seu livro Cozinha amazônica: uma autobiografia do paladar, de 1972, o diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912), o barão do Rio Branco, famoso pela solução dos problemas de fronteira do Brasil com os países vizinhos, adotou o bacuri como sobremesa nos grandes banquetes oficiais do palácio do Itamarati, no Rio de Janeiro, em sua gestão (1902 a 1912) como ministro das Relações Exteriores.
O bacuri, era uma das 'comidas do mato' de Macunaíma, o 'herói sem nenhum caráter' do romance modernista (1928) de Mário de Andrade (1893-1945).
Em 1968, em visita ao Brasil, a rainha Elizabeth II, ficou encantada com o sorvete de bacuri preparado por uma confeitaria do Rio de Janeiro, razão de diversas encomendas posteriores nos anos seguintes.
Bacuripari liso (Garcinia (Rheedia) brasiliensis Mart.) – Árvore pequena, com 5 a 8 m de altura, fruto amarelo, globoso, com aproximadamente 3 a 4 cm de diâmetro, liso, contendo 1 a 3 sementes. Ocorre principalmente em áreas inundáveis, mais comuns na Amazônia central, mas também chegando ao Paraguai, Bolívia, sudeste do Peru, Guianas e Mata Atlântica.
Bacuripari (Garcinia (Rheedia) macrophylla Mart – Árvore de tamanho variável, geralmente entre 12 e 15 m. Fruto amarelo, ovóide, 6 a 8 cm de diâmetro, com um bico curto no final, liso, com 4 sementes. Espécie flexível ecologicamente, ocorre em mata de terra firme, várzea, igapó e capoeira. Provavelmente nativa da Amazônia, mas com distribuição ampla no norte da América do Sul. Amplamente cultivada.
Bacuri mirim (Garcinia (Rheedia) gardneriana (Planch. & Triana) Zappi) - Árvore pequena, de 5 a 8 m, fruto pendente, amarelo, mais ou menos ovóide com um bico alongado no final, de apenas 3 a 4 cm de comprimento total, com 2 sementes. Ocorre em matas abertas de terra firme. Distribuída principalmente no leste do Brasil, estendendo-se ao sul do Pará, Minas Gerais, Mato Grosso e Bolívia (Santa Cruz). O sabor é bastante apreciado, mas devido ao seu tamanho.
Bacuri de espinho (Garcinia madruno (Kunth) B. Hammel) – Árvore de 8 a 15 m de altura. Fruto amarelo, globoso ou elípticoovóide, com 5 a 6 cm de diâmetro, áspero porque é coberto de rugas agudas, contém 1 a 3 sementes. Ocorre em da mata de terra firme. Amplamente distribuída na Amazônia. Ocorre também na América Central, no oeste da Venezuela (Barinas e Táchira), na costa pacífica da Colômbia e Equador.